domingo, 23 de novembro de 2008

O "Fronhas"


Se Marx soubesse no que isto se ia transformar reformularia concerteza a mais conhecida das suas citações: "A economia está na base da sociedade". Efectivamente o homem (ainda) pensa que está, mas se as pessoas têm cada vez mais porque andam cada vez pior consigo mesmas? Não deveria o bem estar material ao bem estar emocional? Talvez se comece lentamente a chegar à conclusão que se calhar, existem aspectos da nossa vida bem mais importantes que o dinheiro e o trabalhar única e exclusivamente com esse objectivo...o que ter uma vida melhor-segundo o conceito material de vida melhor.

Hoje vi o "Fronhas". Para quem não sabe foi o professor responsável pela famosa "mancha" no meu quase imaculado curriculo. No 11º ano lembrei-me de prevaricar em actos de indisciplina e sofri as consequências tendo sido convidado a ficar um dia em casa*. Em Português correcto: Fui Suspenso. O Professor teve toda a razão e só "abusávamos" na aula dele porque ele assim o permitia. Tinha tido uma vida rica e farta numa empresa, teve uma depressão, veio embora com reforma antecipada e estava a dar aulas, sozinho no mundo como chegou confessar perante os alunos. Tinha tido uma triste história de amor pelo meio e a sua meia idade tinha criado barreiras altas demais a que uma nova história viesse atrás dessa má experiência. Era o alvo apetecido para um grupo de adolescentes sedentos de derrubar barreiras. E fizemos o homem sofrer. Das aulas dele só me lebro do dia em que ele nos contou a história dele e os seus olhos tentavam disfarçar um certo embaraço. Lembro-me também de nessa altura já ter sentido uma sensação de arrependimento e querer fazer alguma coisa contra esta sensação (não fosse eu ter a mania que sou o Messias já nesta altura). Hoje e passados 17 anos desde esse famoso 11º ano voltei a vê-lo, sozinho com o seu café, o cigarro e a macieira numa esplanada da cidade do Porto. Deste quadro fazia também parte o mesmo olhar triste e embaraçado e o olhar em volta à procura sabe-se lá do quê. Talvez de uma cara conhecida, de alguém com quem partilhar mais um dia vazio. Nesta altura da sua vida deve ter também uma conta bancária que deverá estar bastante bem recheada. O problema é que só com essa conta pode ver tv à noite, só com ela pode viajar...e partilhar tudo aquilo que há e que deve ser patilhado...com ela e muito possivelmente com mais ninguém. Resolvi não ir ter com ele pois fiquei por momentos a reflectir naquilo que não desejaria alguma vez transformar-me mas que começa a ser coisa comum nos dias de hoje...

Não sei senhor Marx, mas com todo o respeito, acho que essa afirmação deve ser revista. Acho que o exemplo do Fronhas pode ser multiplicado por "n" e será que não existe uma outra "base"...?
*Por motivos óbvios não vou descrever os actos de indisciplina mas serviu-me de lição...
PS: A imagem refere-se ao liceu que frequentei: O Raínha Santa Isabel no Porto:)